O silêncio das palavras
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sexta, 12 de dezembro de 2025

Desde pequenos, nos educam a silenciar em certas ocasiões: na presença dos mais velhos, no colégio durante as aulas, durante uma celebração religiosa ou um sarau musical, enfim, a lista é longa. Nos ensinam a falar, mas pouco falam sobre o silenciar. E quando falam, na maioria das vezes, o ensinamento chega como um manual de etiqueta à cumprir para bem se relacionar. Assim, somente mais tarde é que vamos perceber a importância do silêncio, que pode ser nosso vilão ou aliado nas lidas da vida.

Há diversos pensares a respeito do silêncio, sendo a visão mais simplista aquela que singulariza o silêncio como a ausência do verbo. Contudo, o silêncio assume várias roupagens podendo ser dúvida, desejo, despeito, rebeldia, sabedoria, mas também resposta. O aprendizado em saber quando silenciar é árduo e exige grandes doses de sabedoria e tolerância. A cartilha que nos ensina a como silenciar, inicia por saber escutar e se escutar. Entender o real sentido das palavras, a forma como são expressas, suas fruições e o que despertam. Aprender a entender meias palavras tanto quanto uma oração completa. Decifrar os sinais do corpo, os gestos e mímicas, uma vez que o corpo fala por si e não prescinde do verbo. Fazer do silêncio nosso aliado, pois “O silêncio é um amigo que nunca trai.” (Confúcio).

O silêncio exige disciplina sonora, literária e visual no que queremos/devemos ou não expressar e, quase sempre aprendemos a ser silentes com nossas próprias vivências de amor e dor. O silêncio, que suscita tantas emoções, pode se desvelar na aflição de um diagnóstico médico ou no resultado de uma entrevista de estágio. No silêncio duvidoso de mudar de emprego, de cidade ou  na hora do “sim” nos casamentos. No silêncio do culpado que busca a redenção. No silêncio prepotente de chefes arrogantes frente a um pedido do subordinado. No silêncio amoroso da mãe que zela o sono do filho. No silêncio do remorso, de quem erra. No silêncio da morte, que sela de forma irreversível nossa comunicação com quem amamos. No silêncio de satisfação por nossas pequenas vitórias. No silêncio da injúria como forma de não revidar. No silêncio do descanso de um sono reparador. No silêncio da desistência do que sabemos não valer mais porque lutar. Assim, vamos aprendendo a silenciar, seja por opção ou por imposição, a ponto de por vezes, não sabermos mais discernir o momento certo de usar o verbo. De modo que, é preciso reflexão para encontrar equilíbrio nas coisas que não merecem nosso silêncio, pois “Nossas vidas começam a terminar no dia em que permanecemos em silêncio sobre as coisas que importam.” (Martin Luther King).

                                            Bons Ventos! Namastê.

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